sábado, 12 de dezembro de 2009

Teologia da Prosperidade: eu sobrevivi! (2)


Eu acredito que para você combater o mal não precisará falar dele tão enfaticamente. Exaltar o bem traz à tona o seu contraste, o seu diferencial em relação a qualquer outro caminho ou a um impostor. Por outro lado, tenho-me deparado com interrogações a respeito de como alguém, em Cristo Jesus, pode cair na teia da Teologia da Prosperidade. A partir disto, senti-me motivado para relatar minha experiência pessoal.

2001 : START

Ano de minha conversão numa igreja pentecostal-tradicionalíssima (acreditem, isto existe) ultra-ortodoxa em sua liturgia, hábitos e costumes, porém, a qual serei eternamente grato. Lá, nasci para Cristo e prossegui em crescer na graça e no conhecimento. Dedicava-me incessantemente à leitura da Bíblia, à oração, à participação nas atividades da igreja, enfim, era um rapaz comum buscando aprender mais sobre a pessoa de Cristo e sobre personagens como Jonathan Edwards, Charles Spurgeon, etc.

2005 : ADVENTURE

Em meados deste ano, já casado, finalmente deu-se minha mudança denominacional, desejada e aguardada por mais de 2 anos. Enfim, chegara o tempo de, em Deus, buscar coisas novas, porque, não me sentia espiritualmente saciado onde estava.

No final de 2005 com pouco mais de 1 ano de casado, o deserto: um "crack" financeiro. Inacreditavelmente, eu vi dinheiro ser engolido por uma conta corrente negativada e ali começou uma operação de guerra para vencer as dívidas. O primeiro passo foi aprender sobre finanças domésticas, estudar o assunto e buscar com os mais entendidos. Agradeço a disponibilidade de pessoas como o Fabrício Stefani Peruzzo, um internauta que me deu várias dicas de como organizar meu orçamento. O ano seguinte foi de um aperto incrível porque além de separar dinheiro para quitar paulatinamente os compromissos em aberto, ainda era dizimista e ofertante fiel, além de manter um fundo de reserva (juntar grana). Desta forma, passei o ano operando com 70% / 75% dos meus rendimentos.

2006 : PROVAÇÃO TOTAL

Além das finanças, este foi um ano dificílimo com questões que não vem ao caso, agora. Importante destacar que apesar dos pesares, seguíamos o orçamento à risca... produtos de marcas inferiores na alimentação, higiene... "no" lazer... nada de roupas novas ou móveis... nada nada nada. Lembram-se que disse acima ser dizimista e ofertante fiel? A esta altura os ensinamentos sobre oferta com propósito, lei da semeadura, atrair e chamar à existência, receber, colheita a 100 por 1, ser cabeça e todo tipo de jargão da Teologia da Prosperidade eu já tinha interiorizado e não me pareciam nada demais. Do contrário, fazia todo sentido do mundo, principalmente para mim, um endividado. E foi por isso que nesta mesma época eu tinha 3 carnês de 3 tele-evangelistas diferentes, fora as ofertas na igreja local. Facilmente este valor ultrapassava o dízimo e com o que eu ouvia do púlpito da congregação, eu me sentia muito bem. A coisa tomou proporções tão sinistras que quando eu não ia numa reunião, na outra eu dava uma oferta dobrada, já que não tinha semeado da última vez. Se não fosse a um culto, ficava com a consciência pesada, porque pregavam que isto era negociar a benção com Deus. Se tivesse oferta especial no final de campanha, eu pegava o envelope. Se tivesse oferta especial pela vida do pregador, eu pegava o envelope. Se tivesse algum pregador visitante, eu comprava algum produto para semear na vida dele. Por dentro, eu me gabava de estar na visão e nunca deixar de ofertar uma reunião sequer...

UM PSEUDO-TESTEMUNHO

Eu obtive êxito na minha jornada de revitalização financeira. Hoje, sei que, logicamente Deus me abençoou, mas, o conhecimento adquirido e posto em prática sobre orçamento doméstico foi determinante. As ofertas... nem tanto, porém, naquele momento elas pareciam a causa, era lógico! A Teologia da Prosperidade é uma benção! Olha só pra mim! Quitei minhas dívidas, uma delas, inclusive, à vista com o dinheiro mensalmente guardado. Que benção!

No final de 2006 me lancei ainda mais em busca de ser cabeça, de ter minha honra, de ser exaltado por Deus porque, afinal, eu tinha o direito! O discurso de "talvez você seja até evangélico, mas, olha só pra você... olha só pra sua casa... poxa, será que Deus não é Deus na tua vida pra te dar um carro? Seráááááá que Deeeeeeus quer isso pra você? Uma vida de aperto? Parece que tem alguma coisa que não deixa o senhor ser grande. Parece que tem alguma coisa quando o senhor vai receber o que é seu... quando o senhor pensa que vai... não vai... é ou não é?". É. Era assim mesmo! Era difícil para mim compreender. Dizimista, ofertante fiel, mas, não saía do lugar... vira e mexe, aparecia uma gasto extra. Dinheiro que era para receber não era recebido. Era desgastante demais, só quem já passou por isso sabe... eu pensava, deve ter alguma coisa errada... deve ter... era complicado explicar para a esposa porque após 2 anos de casado ainda não conseguíamos comprar um armário de cozinha novo... cheguei ao auge dos meus conflitos e, depois de muito relutar, lá estava eu na nação (que não é a rubro-negra).

2007 : TEMPERATURA MÁXIMA

Havia muita expectativa pela entrada deste ano porque 7 é o número de Deus e coisa e tal e blabláblá. Diversas eram as orações e palavras proféticas liberadas sobre o sucesso e a prosperidade do povo de Deus. Na igreja, onde eu ainda estava em 1 ano e meio aconteceu uma mutação (para pior). Eu cria nos profetas para prosperar e a prosperidade não vinha. Problemas sérios com liderança e mudanças no regimento interno abalaram as estruturas do lugar. Comecei a desconfiar... os testemunhos eram pingados... geralmente haviam os vips, sempre citados do púlpito, como um casal de bancários e um dono de loja (este, inclusive, sentava-se ao lado de pastores, muitas vezes). Projetos eram apresentados e depois eram ignorados. Não havia nenhuma espécie de contra-prestação de nada. Já na nação...

Que luxo, cara! Nunca vi nada igual. Poltrona de cinema, ar condicionado à prova de defeitos... acústica, arquitetura... tudo de primeira... as salinhas infantis com ar condicionado e com direito a lanchinho... uma organização merecedora de certificados de qualidade. É, pelo menos aqui, a gente vê pra onde a grana vai... foi o que pensei. E para sacramentar, um testemunho de um empresário que residia próximo à minha sogra, ou seja, eu conhecia o cara, sabia que não falava mentira... e depois, vi um outro conhecido... e depois outro fulano... pronto! Na época em que cheguei estavam falando sobre combater o cortador, o migrador, o devorador... era tudo que eu queria! É de Deus, depois de todos os dissabores que passei não pode ser coincidência, Deus está neste negócio!

UM PALEATIVO

Deu uma melhorada, é sério! Por incrível que pareça, houve uma oxigenação em termos financeiros, até porque eu havia cancelado os três carnês. Um deles era de um casal que havia sido preso nos EUA... e outro era de um tele-pregador (cuja oferta arrecadada em dois cultos semanais, na sua igreja local, é para o seu programa, mas, ele prefere dizer que não tem nenhuma ajuda de igreja...). Também porque na nação a coisa era mais direta, se você não quer dar, não dá. Menos embromação e engodo. Diversas, inúmeras vezes eu não dei nada. Aonde eu congregava jamais diriam isto... você não tem porque você não dá e a PNL rolava solta! Eu estava totalmente à vontade na Teologia da Prosperidade, tinha bebido de várias fontes e fazia minha própria seleção. Eu tinha um extra com vendas diretas e aquelas reuniões eram verdadeiras palestras motivacionais! Tinha tudo para dar certo e finalmente viver o melhor desta terra.

A RENDENÇÃO

O condicionamento, eu afirmo, é a pedra fundamental da Teologia da Prosperidade. Os ensinamentos são repetitivos e repetidos à exaustão, fica difícil não ceder. Você começa a perceber que tem algo errado, mas, como fazer ponderações? Ser taxado de rebelde, de se levantar contra as autoridades espirituais constituídas? Ninguém quer uma coisa dessas...

Aquele foi meu período inter-testamentário. O blog hibernou, porque eu já não tinha tempo para mais nada. Coloquei força máxima na conquista de determinadas metas profissionais e como era alguém que sabia o valor de uma oferta, não podia dar errado. Mas, deu... Deu tudo errado! Chegar no final de 2007, trabalhar com dedicação e não ver acontecer foi doído. Além da colheita não ter chegado, outra coisa foi primordial para a minha libertação: senti saudades de Deus. Como eu disse, você começa a perceber que tem algo errado ... senti saudades ... de Deus. Lembrava-me dos meus tempos de novo convertido, de leitura bíblica intensa, vida de oração... Agora, não havia mais desculpa. Se fiz tudo o que teoricamente era certo no plano natural e espiritual (através das ofertas) e nada acontecera só podia ser uma coisa: isto não é a sã doutrina. Nem mesmo da presença de Deus eu desfrutava mais; isto não é a sã doutrina!

Considerei os meus caminhos e voltei os meus pés para os teus testemunhos. Sl 119-59.

Fui liberto!

Iniciei o processo de desintoxicação espiritual saindo da nação e da igreja em que eu era membro. Pedi a Deus que me aceitasse de volta e me levasse para um lugar aonde houvesse a mensagem da cruz!

Hoje, eu continuo morando de aluguel e sem carro, mas eu e minha esposa somos felizes porque sabemos que a salvação é suficiente.

Sim. A salvação é suficiente!

Só tua graça me basta... e Tua presença é o meu prazer!





6 comentários:

  1. CARA , EU PASSEI POR TUDO ISTO TAMBÉM, SÓ QUE AINDA NÃO ENCONTREI O TAL LUGAR ONDE HÁ A MENSAGEM DA CRUZ, SIGO PROCURANDO!

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  2. Vi parte da minha história sendo contada no seu post. Realmente o início da vida de casado não é fácil, no que diz respeito às finanças. Passamos por situações muito difíceis, mas hoje mudamos de vida. Não que estejamos esbanjando dinheiro, mas nos estabilizamos.
    Pra isso acontecer não precismos reinvindicar nada, nem ofertar grandes valores na igreja. Apenas continuamos firme nos caminhos de Deus, clamamos por suas bênçãos, confiamos que Ele abençoaria os nosso trabalho (além de seguir piamente uma planilha financeira).
    E assim tem sido, dia após dia. Continue trabalhando, seja fiel a Deus e Ele te abençoará sempre.
    Lembrando que ter prosperidade de Deus não significa ter dinheiro, mas sim ter paz e acima de tudo a SALVAÇÃO.

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  3. Irmã, Gabriela, você está certíssima! Lembro uma curiosidade que eu esqueci de citar: na igreja em que me converti, não existe momento de dízimos e ofertas, no culto. Estranho? Mas, é isso mesmo... na liturgia, ninguém pede nada. Caso a pessoa queira ofertar ou dizimar, fala diretamente com o tesoureiro de maneira bem discreta. Em sua maioria, na minha época, os membros eram funcionários públicos e ninguém tinha do que reclamar em relação a finanças.

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  4. paz meu querido Aliado, como sempre seus textos são espetaculares, resultado de aprendizado árduo diante de Deus... me lembro das conversar em época de GB e tbm no grão de mostarda perto ai mesmo dos anos de 2004/2005... vi alguns comentários sobre teologia da prosperidade e outras "logias", gostaria de fazer uma observação... devemos tomar cuidado com os exageros, sobre ofertar na vida dos "evangelistas" q vem a nossas igrejas tenho opiniões q levariam um certo tempo para escreve-las aqui então volto a frisar... exageros devemos ficar espertos com eles.
    Que Deus continue o abençoando abundantemente meu querido Aliado

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  5. Grande Léo... das antigas, né mano?! Bons tempos aqueles do Grãoo de Mostarda!!!

    Sem dúvidas, como diria o outro "são muitas emoções" tamanhas as diversas experiências neste tempo de caminhada com Cristo. Vários moveres... várias visões... várias "doutrinas" e um conclusão:

    "Sim eu amo a mensagem da Cruz
    Té morrer, eu a vou proclamar
    Levarei eu também minha cruz
    Té por uma coroa trocar"

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  6. Belíssimo seu testemunho. Achei muito legal o modo como ofertavam na sua igreja antiga, é o que a bíblia fala: "...não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita" Mateus 6:3 Seria bom encontrar uma igreja assim.

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