terça-feira, 29 de setembro de 2009

A corrida maluca dos crentes com propósito




Certamente quem tem mais de 25 anos de idade, recorda-se de um desenho animado chamado Corrida Maluca. Em cada episódio, os onze carros disputavam ferozmente o primeiro lugar do pódio em busca do título de Corredor Mais Louco do Mundo. Para este feito, utilizavam os recursos mais diversos possíveis, e, em alguns casos, recursos nem um pouco nobres. Alguma semelhança com a massa evangélica brasileira? Vamos ver...


A Administração por Objetivos (APO) é um estilo de administração que enfatiza o estabelecimento conjunto de objetivos tangíveis, verificáveis e mensuráveis. Não se trata de uma nova idéia. Peter Drucker já a havia anunciado como um meio de formular e utilizar objetivos para motivar as pessoas , e não simplesmente para controlá-las. Hoje, quando se fala em administração, surge sempre uma prévia discussão da APO. (Idalberto Chiavenato, Administração nos Novos Tempos. Editora Campus, 2000, p. 271).

Esta é uma ferramenta para melhorar o desempenho de uma empresa integrando suas diversas áreas numa busca por seus próprios objetivos e consequentemente, os objetivos gerais da organização. Pode não parecer familiar, mas, se mudarmos de Administração por Objetivos para "Qualquer coisa" com Propósitos... qualquer semelhança não, não é coincidência. Nunca se ouviu falar tanto em nãnãnã estratégico, propósito e visão. De repente, é uma herança do g-dozismo, lembra dele? Pois bem, fato é que existe uma pregação que ensina o crente a sonhar e a escrever os seus sonhos numa folhinha de papel (no melhor estilo de pedido para o Papai Noel) porque afirmam que "Deus só opera de acordo com (os nossos) sonhos e propósitos" - Bonito... mas, Deus não é soberano? Hum... nome do filme, Bíblia: esqueceram de mim, parte 1.

Segundo estes ensinadores, normalmente, no culto do dia 31 de dezembro ou mesmo antes, o crente é instruído a escrever seus alvos para o próximo ano dividindo sua vida como uma empresa: área financeira, profissional, familiar, espiritual, etc. Ele levanta sua relação para o alto, ora com fé e o natural da coisa é que ele passe os próximos meses na corrida por atingir esses objetivos, cuja orientação é que sejam 1) Específicos. 2) Mensuráveis. 3)Atingíveis. 4) Realísticos. 5) Tangíveis (igualzinho à definição de APO). Parece ou não parece uma empresa? Só que ela, sim, vive de resultados, uma ovelha não! Peter Drucker afirma que tudo isso é uma ferramenta para motivar pessoas... e não é isso que se vê por aí? Um bando de evangélicos empolgados numa corrida maluca por seus propósitos carnais? Fico imaginando se é possível conjecturar os apóstolos, cada qual, com seu projeto de vida embaixo do braço (afinal, não seriam crentes medíocres, sem visão; eles quereriam crescer) ticando metas já alcançadas, passando um marca-texto em metas a alcançar e questionando Jesus sobre "quando a minha hora vai chegar". Administração por Objetivos é a pregação do momento maquiada de pseudo-espiritualidade e muita gente boa tem embarcado nesta canoa furada impactado com tanta sabedoria e com tanta visão de seus pregadores. Lamento informar, mas, sua preguiça e falta de leitura podem lhe custar a salvação. Dê uma passeada numa livraria secular... folheie livros de auto-ajuda, livros sobre vendas, sobre Programação Neuro-linguística... e saberás a inspiração de algumas "mensagens impactantes" por aí...

Irmão, mas, é pecado querer melhorar, querer subir na vida? Lógico que não, meu prezado leitor. Só que a Bíblia nos ensina a não confiar em nosso coração porque ele é enganoso. Quem garante que a listinha de desejos é feita no espírito e não na carne? Ainda, que na folhinha haja uma orientação para o preenchimento dos alvos feito sob orientação do Espírito Santo, parece-me extraordinário demais Ele revelar Sua vontade para cada área de tua vida de maneira específica-mensurável-atingível-realística-e- tangível em tão pouco tempo de oração. Hum... Bíblia: esqueceram de mim, parte 2. E esqueceram mesmo ou puseram-na de lado propositalmente, pois, quando Peter Drucker, Michael Porter, Stephen R. Covey entre outros tornam-se fontes inspiradoras para o exercício da fé cristã, o sentimento da segunda vinda de Cristo fica mais forte. Maranata!

E assim caminha a humanidade... às vésperas do último trimestre do ano, a corrida maluca dos crentes com propósito fica ainda mais intensa. Não basta ser abençoado pela graça, é necessário provas materiais... imagina chegar no final do ano sem um testemunhozinho para contar... tá amarrááááádu!!!!!! Só que a esta altura do ano, enquanto alguns que são os perseverantes-mais-que-vencedores-que-reinarão-em-vida-e-prosperão-porque-ouvem-seus-profetas continuam na sua empreitada, outros nem sabem onde está a tal listinha de objetivos. Na verdade, aquela empolgação do começo do ano já se foi porque deu tudo errado... um falecimento, uma demissão inesperada... uma perda. Sua fé é triste e aparente, aquela mensagem de vitória parece funcionar para todo mundo menos contigo... sensação horrível de exclusão... fez tudo certinho e nada... "talvez essa religião não seja para você"... e assim, mais um desiludido com esse negócio de igreja. Pregadores da Administração por Objetivos, receeeeeeeeeeeeeeeeeeebam! Vai para conta de vocês, ok?!

Um grande esforço de administrar por objetivos provoca uma significativa ruptura na organização, pois substitui a ênfase nos meios (mera obediência às regras) pela ênfase nos fins (foco nos resultados a serem alcançados). A APO desloca a preocupação com regras, regulamentos, procedimentos e métodos pela preocupação com resultados e metas a atingir. (Idalberto Chiavenato, Administração nos Novos Tempos. Editora Campus, 2000, p. 276).

Este é um dos pontos negativos da APO, agora, imagine dentro de uma congregação os seus possíveis estragos. Novos convertidos, principalmente, cuja preocupação deveria ser aprender mais sobre os atributos de Deus e uma nova forma de vida, veêm-se na luta para comprovar a benção dos céus sobre si. Esta ênfase nos resultados dá lugar a um novo fenômeno: testemunhos fabricados, a famosa forçação de barra. Jovens afoitos por demonstrarem que estão crescendo na vida, matriculam-se numa universidade e dão testemunho da benssão! Pergunta básica: tem certeza de que uma faculdade está nos planos de Deus para a sua vida? Resposta: ah... se eu tenho essa vontade e Deus cumprirá o desejo do meu coração, então, faculdade é de Deus. Resultado: no terceiro período ele tranca por causa dos aumentos da mensalidade. E aê, como tá a faculdade? Hã... ah.. a facul... tranquei, mas, vou voltar no próximo semestre... (junto com o papai noel e suas renas! tá bom...). Outro comum é o varão do carro novo... tava na listinha... o pastor ungiu as chaves e tudo mais... é... na décima prestação ele entregou o carro porque estourou seu orçamento... o filho pequeno pergunta: papai, por que o senhor vendeu o carro? A esposa reclama-e-reclama-e-reclama porque não acredita ter que voltar a andar de ônibus de novo. Então... mais uma família decepcionada com esse negócio de igreja. Pregadores da Administração por Objetivos, receeeeeeeeeeeeeeeeeeebam! Vai para conta de vocês, ok?!

Ninguém é inocente (vide a última postagem do blog), no entanto, a corrida maluca dos crentes com propósito é cruel. Vai dizer, irmã, que você nunca se sentiu inferior por causa da roupa das outras irmãs no culto de domingo à noite? A maneira como te olharam. E a marca da bolsa? Êita. Iaê, cara, quando é que tu vai comprar um carro? Você tem que crescer... tem que andar com pessoas melhores que você... blábláblá... mesmo assim somos um povo... assim bem (mal) ajustado, diga-se de passagem. Os jovens de hoje almejam tanto fazer faculdade porque os pais e pastores orientam as jovens a selecionarem um varão aben$$oadu. É a lei do mercado, oferta e procura. Se o rapaz é íntegro e bom obreiro, mas, ainda pede pra rachar o lanche na cantina, chuta que é laço! E assim, uma geração de meninas, à moda antiga, casadas sem amor que logo tem um filho na tentativa de ressuscitar o que já nasceu morto. Então, mais uma pseudo-família para qual esse negócio de igreja não faz tanto sentido. Pregadores da Administração por Objetivos, receeeeeeeeeeeeeeeeeeebam! Vai para conta de vocês, ok?!

A Incerteza dos Planos Humanos

Ouçam agora, vocês que dizem: “Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, passaremos um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro”. Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa. Ao invés disso, deveriam dizer: “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”. Agora, porém, vocês se vangloriam das suas pretensões. Toda vanglória como essa é maligna. Pensem nisto, pois: Quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado. (Tiago 4.13-17).

Temos uma vida finita repleta de coisas finitas; pouquíssimo tempo para ajuntar tesouros nos céus, então, por que nos deixar fascinar pela Babilônia? Só para se enturmar e dizer que tem visão? Se a Bíblia nos adverte sobre a incerteza, a falibilidade, a limitação de nossos planos é sinal ser aconselhável nos desfazer das manias antigas para se viver o novo. Por isso, conheçamos e prossigamos em conhecer Aquele que nos amou primeiro. Dobremos os nossos joelhos, seja numa cobertura ou num apartamento pequeno, seja numa casa própria ou alugada, convertamos nosso riso em pranto e seremos ouvidos. Acheguemo-nos a Deus, num carro zero ou usado, a pé ou num transporte coletivo e pensemos somente nas coisas do alto procurando conhecer e prosseguir em conhecer Aquele que nos amou primeiro. Santifiquemo-nos de alta ou ainda internado, totalmente curado ou ainda em tratamento, com uma certidão de nascimento em mãos ou de óbito, com beca de formatura ou ainda com livros de alfabetização na mochila, com um negócio próprio ou um emprego simples de carteira assinada, santifiquemo-nos. Santifiquemo-nos. Santifiquemo-nos por causa dAquele que um dia nos amou primeiro.

Seja essa a nossa melhor estratégia. Seja este o nosso maior propósito.

Amém.



Notas:

Peter Ferdinand Drucker, (nasceu em 19 de novembro de 1909, em Viena, Áustria - faleceu em 11 de novembro de 2005, em Claremont, Califórnia, EUA). Foi filósofo e economista, de origem austríaca, é considerado por todos o pai da Gestão moderna, sendo o mais reconhecido dos pensadores do fenómeno dos efeitos da Globalização na economia em geral e em particular nas organizações, ainda hoje, mesmo após a sua morte, permanece inquestionavelmente como “Único” Pai da Gestão.

Michael Eugene Porter (Ann Harbour, Michigan, 1947) é um professor Harvard Business School, com interesse nas áreas de Administração e Economia. É autor de diversos livros sobre estratégias de competitividade.

Stephen Covey (Nascido em 24 de Outubro de 1932 em Salt Lake City, Utah) é autor do best-seller administrativo (classificado por alguns como livro de auto-ajuda) Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes. É membro praticante da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias ou "Mórmons", onde tais principios (família, a liderança pessoal ou autoliderança) são a base de seus ensinamentos. Entretanto, Covey afirma e muitos concordam que os princípios e métodos ensinados por ele não são exclusivos de nenhuma religião ou ideologia e que seus livros seculares são religiosamente neutros, embora sejam espiritualmente profundos.

Corrida Maluca (nome original Wacky Races) foi um desenho animado produzido pela Hanna-Barbera e lançado pela CBS que foi produzido entre 14 de Setembro de 1968 a 5 de Setembro de 1970, rendendo 34 episódios.





3 comentários:

  1. Oi mano! Aquele banner deletei, pois o Rubinho fez um com o nosso personagem genizah que é o que está la...

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  2. Ola

    Sou membro de uma igreja neopentecostal que prega a teologia da prosperidade.
    vi que seu blog tem muitas criticas acerca dessa teologia... gostaria de entender melhor o que há de errado com ela.
    isso que vc falou disse de escrever seus objetivos no dia 31 tem na minha igreja e eu sempre faço...

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  3. Anônimo, daria uma outra postagem se fosse te responder com detalhes. Resumindo, Ef 4.14 adverte sobre os ventos de doutrina (ou seja, havia naquela época algo que parecia com a sã, mas não era) e o vs. 13 ensina que a capacidade de reconhecer o que há de errado neles vem do conhecimento do Filho de Deus.

    Medite nisto.

    Abração,

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