terça-feira, 24 de março de 2009

Eu, o Bozo!


Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes. Mt 12.7

Jesus era bastante versátil em sua maneira de lidar com as pessoas. Ele não tinha um "estilo" definido, porque em vários momentos apresenta-se compassivo e ao mesmo tempo duro no falar. Ali estava ele conversando com alguns fariseus, questionado acerca do comportamento dos seus discípulos quanto algumas normas da lei. O problema em si não estava na lei, mas na maneira como lidavam com a lei.

Outro dia, eu sentado numa condução, pronto para ler um livro, fui impedido pela conversa paralela entre uma senhora e seu filho. Logo ali, ao meu lado, ela deu a falar e a falar. Após um esforço sobrehumano para ler duas páginas em alguns minutos, eu me dei por vencido, fechei o livro e inevitavelmente ouvi o diálogo.

_ Estou com medo de tomar uma multa. Preciso pedir àquele rapaz pra tirar "aquele negócio" lá de casa porque o que colocou não quer mais tirar; disse a mulher.

"Aquele negócio" ao qual a tia se referia era uma ligação clandestina de luz ou como chamamos aqui no RJ, o famoso "gato". Passados alguns instantes, a senhora deu a abordar outro assunto.

_ Não entendi aquelas fichas. São duas fotos e as fichas preenchidas? (perguntou a mulher).
_ Sim, respondeu o filho. Mas a senhora já renovou a carteirinha, correto? Se já renovou não precisa entregar as fichas. Só os novos precisam.
_ Ah, tá. É que o pastor me ligou cobrando as fichas. Então, é só dos batizandos e novos convertidos?
_ Não, ficha de membro só dos que se batizaram! disse o rapaz.
_ Então fulano só depois que casar, se batizar... quando tiver tudo certinho, aí a gente manda a ficha dele de membro? perguntou a mãe pra confirmar.
_ É isso!

De cara, eu pensei: ih, a dona do "gato" é creeeeeente??? Caraaaaaamba! Misericórdia... Mais surpresa ainda foi o procedimento de sua denominação evangélica para estabelecer quem é membro e quem não é. Pelo diálogo ouvido, fulano mesmo frequentando os cultos, independente do tempo em questão, não é considerado membro da congregação enquanto não se batizar. Para isto, ele precisará casar no civil, correto? Casar no civil? Corretíssimo. Por outro lado, é por demais confuso e burocrático este acerto com o integrar ou não a mebresia.

Sem casar no civil, não pode se batizar. Sem se batizar, não pode tomar a Santa Ceia. Sem tomar a Santa Ceira, biblicamente falando, ele não tem parte no Corpo de Cristo. É exatamente isso que fulano está sofrendo, uma exclusão da comunhão com o Espírito Santo de Deus e uma rotulação no meio da igreja. Afinal, duvido muito que não comentem o fato de fulano não ser batizado por isso e aquilo... É o que fazem as regras humanas. Homens que condenam inocentes.

Não estou aqui para criticar o regime interno de cada denominação. O cuidado a ser tomado é o de não sobrepujar coisas a pessoas. Se fulano ainda não tem ficha de membro é porque não é membro, amém? Assim sendo, seu dízimo não pode ser aceito pelo pastor, afinal, dízimo se dá no local onde se congrega. Amém? É algo claro, mas, duvido muito que seja pregado. As ovelhinhas são emudecidas e condicionadas pelo sistema em prol de um respeito a autoridades pra lá de exacerbadas. Esticadas. Aumentadas. Adulteradas. Extrapoladas.

É muito trelêlê... muito fardo. Balança enganosa, acepção de pessoas, critérios humanos, politicagem, coisificação do homem, organização e não organismo vivo, não pense, não fale, não olhe para o homem (então o que ele está fazendo ali mesmo?), rótulos, estigmas, sofismas, assédio moral, religiosidade, egocentrismo, status, poder, vanglória, rivalidade, disputas, intrigas, esquemas, sistemas, manobras, manipulação. Algum partido político? Não não, trata-se da igreja evangélica do século XXI.

Deixe estar!

Eis que não tosquenejará nem dormirá o guarda de Israel. Sl 121.4

Deixe estar!

Enquanto isso... para não pecar, muitas vezes visto a carapuça: eu, o bozo!




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